no dia de Iemanjá

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nos teus olhos
corre um rio tão fácil
de perder de vista
onde encontra o mar

no teu corpo
um remanso o tempo
onde me aposento
se quero me dar

todas as redes do mundo
todo o sertão em luar
todos os barcos que partem
no dia de Iemanjá

nos teus sonhos
eu me encontrei inteiro
eu virei passageiro
e deixei de esperar

nos teus contos
eu vi fazer a terra
onde enraízo as horas
e vou encontrar

todas as redes do mundo
todo o sertão em luar
todos os barcos que partem
no dia de Iemanjá

no dia de Iemanjá
no dis de Iemanjá

Atrevidos

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lá dentro da quaresmeira da linda mangueira
há uma obra em arte,
pitiguaris
de dorso preto
e de peito amarelo,
quase limão,
poetas de orvalho

somos Pitiguaris
cantando aqui e ali,
se a alguns só piamos,
para outros cantamos

nós somos atrevidos,
entoamos canções
que ninguém quer ouvir,
ninguém ousa sentir

se a vida é uma composição,
nela vivemos nos fios,
dançamos em altos e baixos,
pra escrever a nossa canção

mas lá na selva de pedra em dias deserto
a mangueira secou
Pitiguaris
de plumas vermelhas
e de peito aberto
quase irmãos
poetas do asfalto

somos Pitiguaris
escrevemos nos muros,
se a alguns assustamos,
outro sonho embalamos

nós somos atrevidos,
insistimos canções
que ninguém quer ouvir,
só alguns vão sentir

se a vida é uma composição,
nela vivemos nos fios,
dançamos em altos e baixos,
percorrer a nossa canção

Link para a canção

[a letra é parceria com o querido amigo Cometa; a melodia é dele]

banhos-de-mar

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e rasgam a minha pele grossa
os dias em que eu não navego
as terras de que não me perco
as luas que não vou encontrar

se me cabe acontecer no mar
o tempo no cais me des-espera
longos dias a me parir adentro
contra a maré à beira-de-estar

é tanto lastro no peito da gente
que nem todas as brisas levam
e nem todo mastro teso espaça
o nó que a gente enreda pra si

e até que a pele arrebente em litoral
vão pregos no tempo de quase zarpar
enquanto os olhos tramam dor e querer
me abrigam mudo em banhos-de-mar

remanso

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não invento segredos
palavras é que raleiam
quando não há porto ou cais

volantes como marés
cantos só são nos ouvidos
e som não vai onde nada há

então me pedes o que
carpideira de quem nunca vi?
o oco sussurro de quem já partiu?

não remendo silêncios
nem se alcança de salto
o vesgo do barranco

é no remanso das bocas
o teu rosário e noventa
torta ladainha em dó
a te fazer escutar

amor-fumaça

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quais cores perdi
te olhava detrás da vidraça
vais? não compreendi
devo mentir; é amor que passa

há tempos demais
os ponteiros são tolas trapaças
tens quandos de mim
pouco talvez; amor sem graça?

mesmo que os dias me calem
sonho um turbilhão
mesmo teu corpo já raro em minhas mãos
amor também é solidão

mesmo que os livros te falem
fuja a uma oração
mesmo assustado teu doce coração
amor também é confusão

há flores pra mim
já te vejo a correr pela praça
vais? já compreendi
o teu amor é pressa ou nada

sei me refazer
destilar o amor em cachaça
queima meu peito em nãos
talvez o amor seja fumaça

mesmo que os dias me calem
sonho um turbilhão… Continue lendo "amor-fumaça"

canção para frestas

nem pensava ser revirado
nem perder a certeza
nem previa este escampado
nem mais nova princesa

que me veio num fim de dia
luz, azuis, pés na areia
de roubar fôlegos e vistas
me enredar suas teias

serena, verbena
que me desejou
em asas, sem casa
inteiro no amor

mas o tempo moço severo
ilusões não daria
e das frestas faria nadas
a soprar seus não queros

e vencidos pelos compassos
que juramos perdidos
são os muros que fazem regras
águas são só jazidos

serena, verbena
que me imaginou
em asas, sem casa
perdido do amor