Categoria: sons e silêncios
insistências
não há verso
cansado demais
as aves sim
se cansam
os homens sim
se esquecem
as pedras sim
desgastam
e todo tempo
longo se esvai
mas palavra
não cessa
e vontade
não passa
pois até os
mortos falam
nos vivos
memórias que
podem tanto
segredos que
mudam tudo
sonhos que
rasgam corpos
e até as paredes
quando escutadas
têm melodias
e conselhos
a dar
banhos-de-mar
e rasgam a minha pele grossa
os dias em que eu não navego
as terras de que não me perco
as luas que não vou encontrar
se me cabe acontecer no mar
o tempo no cais me des-espera
longos dias a me parir adentro
contra a maré à beira-de-estar
é tanto lastro no peito da gente
que nem todas as brisas levam
e nem todo mastro teso espaça
o nó que a gente enreda pra si
e até que a pele arrebente em litoral
vão pregos no tempo de quase zarpar
enquanto os olhos tramam dor e querer
me abrigam mudo em banhos-de-mar
remanso
não invento segredos
palavras é que raleiam
quando não há porto ou cais
volantes como marés
cantos só são nos ouvidos
e som não vai onde nada há
então me pedes o que
carpideira de quem nunca vi?
o oco sussurro de quem já partiu?
não remendo silêncios
nem se alcança de salto
o vesgo do barranco
é no remanso das bocas
o teu rosário e noventa
torta ladainha em dó
a te fazer escutar
depois
e isto é o silêncio.
lágrima a
desfazer pedras
um outro jeito
aos olhos,
no de traz das touceiras
a espreitar os
nus e os perigos
de si
é um ocaso
desse jornalão-falso-transparente
que se publica
no esmo da
boca aberta, desgarrada
necessários nãos
a este tempo
de histórias contadas
de tudo
massas de gentes a
se revirar
na esquina, no retrato
no que sempre acham
de qualquer coisa
um silêncio para
encontrar o corpo
as paredes
os copos
a tosse
o amor
e a rigidez
de se saber
inescapável
um só
sobre o
escrevo a tapas
foice a descer
palavras
[dirrisso
coiceio
esperneio]
a lápis grosso
quebra-pedras
na minha boca
[descalo
arregaço
chumbo]
porque os silêncios
são os olhos
da gente
quando há medo
no enxergar
[galopo
espanto
escarro]
que é a desarrolhar
o estradão dos poemas
quantos nós
do leme ao cais
o que separa a gente
é uma vontade
as amarras não são
estorvos indecifráveis
nessas cordas vocais
tanto o querer não é
essa pombeira anzolada
nos nossos destinos
que nada. em jamais.
há um golpe soprado
do elísio na direção das
tuas sedes maiores
e a catapulta do tempo
a empurrar tuas sinas
pelos mares do barro
quanta hora de espera
a tolerar os lampejos
das novas paisagens
quantos nós a fazer
quantos nós desatar
quem de nós navegar
pausas
até quando houver razões
segue calada a moça-mão
das poesias
porque as leituras não
são a desembestar
madrugadas
porque cada oco é pra
ser vivido nos seus
próprios silêncios.
o que hoje fala é a rés
dos dias que estão
por figurar
e isto é para cada um
peão perdido neste
xadrez tabuleiro
essas veredas rudes
guardam também o
tempo da florada
difícil é acreditar nas
marcas disso que é
um termo
será o arremate de
toda obra que não
se viu fazer?
sina nas rochas pedras
do peito a segar o tanto
que havia em viver?
melhor calar.
os olhos
calhar
sons emprestados
essa poesia é som.
e só.
rito de emprestar
máscaras a esses avessos
de tanto barulho,
é a obra-de-bico
néscio ato de remendar o
Tao no meu peito
em papéis
nenhuma palavra basta
meu canto é a nesga
do que eclode nesse
Isso que tanto
me atravessa
fardo e deleite diários.
opero no meu texto
a rotulagem do infinito
mar de dejetos-desejos
que tomba destes interiores,
linha-de-produção sem
interlúdio, sirene, parada
suspiro em tentativas
de traduzir angustias
mas as palavras são
sempre fotos tremidas
tímidas cartas
edemas sem lastro
anátemas das
Reais sensações
resistências
a porta é fechada.
e em toda palavra
mora um quarto escuro
o pouco das falas
não é que é a gente
mesmo. Não moça.
o silêncio é a
barriga grávida
dos nossos destinos
é um menino que
vai beber da luz e
desenganar da solidão
como em toda novena,
cada conta é um pedregulho
na aragem das mãos
cada palavra uma conta
um calo no dorso do tempo,
Parrão a me cobrar.
[madrugada na roça. escuta o eco que faz]
o silêncio é um jeito
arisco de não estar
na mira das vozes
a palavra parada
tem os olhos fechados
no esconderijo de si
e o pior cego?
aquele que tem
medo de ver
porquê o querer é
só uma bala atirada.
é sem importância.
quem manda mesmo
são outros macacos,
outras resistências