o tempo é nada disso
não vem a nos devorar
não torna o amor sereno
não dilui nossas pedras
não faz das memórias ocos
e nem nos põe a pensar
o tempo, pois, não é menos
não joga no vem-e-vai
não vem pra armar o palco
não faz pra nos confortar
não muda as nossas caras
não vem cá desenganar
o tempo, então, é só brisa
que o corpo tenta inalar
pra ver o que se enxerga
morar naquilo que passa
saber onde enfim se pisa
ser um-pouco ancorar
o tempo é pura presença
vem denso assim como mar
e bate no peito em ondas
e nos lança a balançar
e assusta quem já não quer
e amarga quem já não está
o tempo é nada disso
não quer gente rarear
é contingente infinito
redor que bem sempre está
e enquanto o cabra respira
não teme nunca em faltar