
tua morte chegou
numa sexta-feira
fazia frio na tua cidade
te puxou pelos cabelos
e tomou teu corpo
lenta e definitivamente
até te colocar um ponto
não houve medo ou dor
quando teu peito parou
só a brisa fria no teu rosto
teus olhos brilhantes
se alargaram até o final
não queriam te esconder
da luz que tanto conhecias
mas teu tempo estilhaçou-se
em minutos infinitos
e os dias de tua mãe cessaram
sem os porquês da tua boca
a vontade nos teus pedidos
o trânsito intenso do teu corpo
tuas cirandas na varanda
teu barulho ainda se escuta,
sustos, nesse monjolo-de-horas
na porta que batias furiosa
no telefone que avisava de ti
na música que batucavas
no tom em riste da tua presença
e tua ausência fez da casa a
lama mais densa que já existiu
quase nada se move
quase ninguém respira
a fé limita-se a um sufixo
quente que amarga a boca
só teu registro ficou impresso
em papéis, paredes e na pele
e a cidade nunca mais aqueceu
não houve mais justiça
festas não se repetiram
não coube mais intervalos
o beijo terminou sem gosto
tudo tornou-se impossível:
água, livros, noites, gente
vida em q.s.p. esperar por nada
—
escrevo sobre isto
sete anos antes de
da tua partida
uma alavanca
no sentido
que não haverá
tentativa de
processar
arremedo
de sentir
receita contra
o destino
ou
ensaio
para que
eu possa me
despedir
de ti
—