não entendi
você se recobriu de febres
para tirar os olhos do amor
sugou 12 vidros de analgésicos
mimetizou-se oca em sua cama
chorou o tanto exato de uma represa
pintou as unhas de preto
raspou a sua cabeça
perdeu as botas vermelhas
retalhou o vestido lilás
descoloriu a cortiça
esvaziou as garrafas
nunca mais saiu à janela
deu para apagar as luzes
precisamente às 21 horas
não entendi
você se picou de cobras
para morrer incansáveis vezes
desapareceu no espelho
mudou o seu endereço
e cancelou 16 subscrições
elegeu outro sol no seu mapa
queimou o cartório: sua garantia
opôs-se ao jeito destro, que era o seu
e cessou de pensar em português
escondeu-se em infinitas florestas
atravessou empedradas montanhas
e nunca mais provou chocolate
sublimando-se em um bicho mudo
precisos 23 dias depois daquele não
não entendi
nunca entendi
era apenas
um não