sempre infâncias

o mundo, era do tamanho
da rua da minha casa à
escola professora Kazuco Ohara

de tão pequeno, ele era bonito

no campinho fiz meus primeiros gols
e ali experimentei o nascer da inveja:
como jogava bem o tal do Saraiva

de tão bom, a gente tinha medo

cresci em uma descida, e o
desejo era ser o time a atacar para cima
– ainda tento entender o porquê.

de tão torto, meu coração só conheceu enxurrada

naquele dia eu conheci Renata
tinha sorriso bonito e pele
que entendi morena. pouco toquei

de tão longe, evaporou de todas as tardes

foi a primeira, onde tudo ainda é.
ainda vou à escola no depois do almoço
enquanto Renata deixa a rua vazia

horas

parado. parado. paradas
as horas
no relógio cansado
esquecido,
como já
pouco importam as horas

ponteiros cansados carregam
o fardo, movimentar
o tempo parado
impresso em círculos
na parede, em
luzes intermitentes.
Cansados, porque já
pouco importam as horas

horas
as horas arquivadas
relógios apontadores
dos destinos de cada recorte
que não vale,
porque a vertigem da escolha
já abandonou as horas

tic, tac, tic, tac, tic, tac
é, não é, sim, não, certo, errado, desarrumado, pronto,
tic, tac, tic, tac, tic, tac…

segue um relógio de inconsistências
espaço vazio e busca.
um relógico ocupado de mim
dos segundos arrastados, eternizados
espera: tic, tac, tic, tac, tic, tac…
haveria ali um espelho a devolver minha outra metade

agora perdida, agora esquecida, distante
consumida nas chamas de si, nos seus próprios ponteiros

ponteiros parados
tempo, tempo, tempo
até ensurdecer despertado
inevitável destino da escolha já feita
tic, tac, tic, tac, tic, tac, tic, tac, tic, tac
fim do tempo de espera