insistências

concrete-wall-3176815_1920não há verso
cansado demais

as aves sim
se cansam
os homens sim
se esquecem
as pedras sim
desgastam
e todo tempo
longo se esvai

mas palavra
não cessa
e vontade
não passa

pois até os
mortos falam
nos vivos

memórias que
podem tanto
segredos que
mudam tudo
sonhos que
rasgam corpos

e até as paredes
quando escutadas
têm melodias
e conselhos
a dar

vulto

vulto

algo te escreve

imprecisa mão
que não vês
– e não podes –

texto dentro
do outro
a te fazer
de efeitos

tu és
um feixe
um gosto
um lapso
um parto

ou apenas
estação

onde
desembarcam
vozes
vultos
vontades

tu és um quase
um quando
um tipo
um só
um

e tão
pouco
sabes

quase
nada
escolhes

entre ir
ou não
vives
de apostas

és um
risco
de si

 

clínica é

a clínica é um tijolo
uma marquise abarrotada
de olhos que bisbilhotam

uma calçada apinhada de
gente às pressas com a chuva
que se avizinha na esquina

um elevador ensardinhado de
homens e mulheres confusos
sobre o andar em que descer

é a arquibancada empolgada
com o lance relâmpago que
quase resulta em gol contra

um teatro lotado de lobos
pelo fim do espetáculo pífio
que lhes atrasa a pizza

a clínica é uma balbúrdia
a gritaria dos histéricos e a
pressa circular dos compulsivos

a clínica é crítica, clítóris,
clivagem, clímax, ou clara,
dissimulada; feito capitu