rosa

roseni
não esqueci Rosa
rabisco aguçado
do raso querer
e do tanto saber
deste ó-em-pó, povo

nem desfisguei-a
ou a desli, no fundo
de meus raros juízos

não esqueci Rosa
palavra-de-costura
em todo vão e rasgo
onde se aninha a
política deste uai
jeitão-de-gente

nem o apaguei,
ou encabrunhei meu
gosto em filosofá-lo

não esqueci Rosa
passarão-de-grito
carta de esgarçar
segredos que a gente
só escondeu de si

nem acomodei-a
ou dependurei seu gosto
feito réstia do que já passei

não esqueci Rosa
dona de rasgar picadas
por onde todo macho
já havia deitado um fracasso
em cachaça de esquecimento

nem eu o encerrei, ou
prateleirei o guizo do
bicho que os nós acorda

não esqueci Rosa
esse corpo de dizer anzóis
e enganchar todo furto
da prontidão que o peão
merece pra não arriar

nem eu a perdi, ou
a verti num último gole
da água que chorei acabar

nem não deixei poeiras
enganarem os tempos
no que destilamos ordens

nem me fiz inquieto
nem me mordi de incômodos
nem me passei de Minas

não apaguei
não desmedi
não desliguei
nem devolvi
os fardos lautos
de sabidos destinos

não, nem nada, nonada,
eu ancorei aqui.
nem Guimarães partiu
nem me esqueci Roseni

ensaios sobre o ver – 8

cego
eu sonho…

na máquina
dos olhos
aquilo que
me opera.
tempos feito
engrenagem

passagens do
dentro e fora
hora-a-hora
abandonadas:
deixo as separações

à máquina
não se engana
inteiras plenas
percepções.
chega
até onde faltam
meus pensamentos
entende
no onde
escapo calo
minha voz

máquina-do-tempo
os olhos
do sem contorno
eterna partida
e retorno
em direção
à matilha de mim

[a imagem que acompanha a poesia conheço por máquina-do-corpo e foi gentilmente cedida por André Brandão]