os prédios ameaçam Deus
enquanto flores
despencam em janelas cerradas
toda torre arde
como setembro
e a cidade, finalmente,
inten-cidade
cumpre-se
em rios metálicos açoreados
e destina-se em
crepúsculos cinza
futuriza-se em árvores plásticas
gente pálida
em turbilhonada existência
cidade-angústia, cidade-máquina, seca cidade
analcidade feita em desejo estético
corpo invadido
cisão política.
a pólis reinventa éticas
mastiga meus ouvidos quando
cospe palavrões em muros pichados
gente espalhada
em tanta periférica existência
tanta concentração: opacidade
minha cidade é susto
e ameaça
humana ratoeira a esconder
sorrisos tímidos
gente roída se debate
onde não há mais
nada
tudo é terra ocupada
tempo ocupado
em cabeças sem teto, sem terra, sem tento e ternura
a cidade são buracos
correria, grito, porrada
enxurrada e capital
invencível cidade
sob avermelhado céu
taquicárdicas tentativas
em fabricar sentidos
no todo dia