a infância é um caminho,
sempre é.
naqueles dias fazia da
colorida capa do edredon
nossa máquina-do-tempo
dali viajamos a todas as terras
de dinossauros: latiam lá fora
enquanto a gente se encolhia
em pânico-gargalhadas
dali evaporamos ao futuro de todos
os carros e gente voadora: lá fora
robôs soldados a latir em ameaça
aquele jardim era uma passagem
cada planta, pedra, bicho
tudo emprestava pra gente o
feitiço de ser outra coisa
canibais por detrás das moitas
ninjas escalando o telhado
a terra que engolia tesouros
areia que matava a fome
tudo como se com vontade
razão e movimento
devo ser
que me explico
pela máquina-do-tempo:
este agora é um futuro
que me abraçou pesado
enquanto carrego
o quem-sabe poder voltar
de quando em quando
penso ouvir o cachorro
misturado a criança, café
e bolo de cenoura
vai ver é que a gente
corre muito
que é pra não estranhar
o mesmo jardim, o sempre
edredon e o susto
de que não vai crescer