entre olhares raimundos

tu que enxergas tanto
que então, de tanto
esse enxergar tanto
vai acabar no quando
um canto de nada ver

é tanta palavra a
desenhar teus
desesperos

é tanta falsa certeza
a esconder teus
atropelos

é tanta profecia na
boca em que nada há
além do fel de um oco

que este sufoco vai se
embeber de vaidade
fazer de tudo partida
e se lançar às medalhas

que já não são, não.
tu que enxergas tanto
e tanto desenhas nas
telas do mundo
será tu Raimundo
um menino sem rima
um poeta invertido?
seria tu, então,
rapaz sem solução?

Carlos Drumond
e essa pedra opaca
e amarga a te
entupir a visão?

pior é perder-se nas horas
pior é uma dor sem demora
pior é o vasto pasto de agora
em que tu te vês, e eu sei,
essa baba que escorre na boca
esse então sem caprichos
essa lata de leite virada
num onde não se pode ajuntar

se tu te chamaste Raimundo
e esse mundo vasto fosse
também o teu berço
o colo da tua mãe e os
tempos deitados diante do mar?

se tu te chamaste Raimundo
e eu fosse Drumond
e te removesse pedras
e te escrevesse rimas,

então tu,
deste mundo,
não seria arrastado
e seria cuidado,
dormiria abraçado
embalado nos olhos
medrosos das moças

tu?
tu ganharias o mundo
da boca do
teu inimigo
e teria teu riso
tua rima
tua solução

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